Quando a Noite fica menor que o Peito, e o Cor-Ação se expande ao Infinito, um desfile invisível se apresenta, como o início da Morte, eterno, que contempla todos os Jardins, que sequer chegam ao tamanho da Flor em sua magnânima vertigem de respeitar cada Instante até o seu mais profundo e belo enigma de dar imensamente aquilo que é, por uma temporada ou alguns dias, sem no Jamais se atrasar nos propósitos do Mestre Jardineiro que a Tudo rega e também em seu potencial sequer pergunta pela Existência, afinal, que pergunta estúpida, todos sabem sem palavra última o que deve ser respeitado... Alguns desatentos pisaram no Sagrado e quebraram a Flor, mas Tudo que permanece recompensa e cobra a dívida insensível do maior Mistério. Quem nasceria sem a Vergonha do Entendimento? Ou pisaria com a graça do outro nascimento? Quem carrega a Pedra derradeira? Quantos ainda falarão sem a Voz do Infinito? Tudo contempla o verdadeiro, até os perdidos entre roupas e espelhos, porque o Espelho Maior, que tem por Nome "Vida", ainda celebra o que os homens resmungam como "acaso", esquecendo do seu pedido por uma bruta Verdade, que irrompe e até interrompe o Dia... Há trabalho e fadiga ainda, muita loucura e incompreensão. Dois laços de Destino invertem os passos daqueles que ouvem o Chamado. Nada fica perdido. Ainda há Luz e dois quartos que esperam dormir antes da Última Morte. Nada disso seria capaz... Disseram, quase aos gritos, que era o Poema de um Horizonte investido de alguma alcunha que não decifraram, e sempre surge a pergunta: "Quem decifrou o Amor?". Vi o desfile inteiro de todos que me deram as Mãos, os que não deram, os que fingiram dar, os que fingiram não dar, e em nenhum consegui menos ou mais que a Máscara, apenas o seu Limite de dissolução, cada qual no grão que podiam remeter a Ele, apenas a Ele, no Jamais a grandeza de Sua Face, escondida sabiamente nos corpos alucinados e perdidos, como meu Oceano procurando a sua Gota, sua Única Gota que pudesse realmente dizer qual era o tamanho do Infinito, mas aí seria a maior blasfêmia do Tempo, a contemplar sua dissolução no grão de quem sorriu o Amor, perdendo Noites, Dias, Memórias, supostos amores, dedos entrelaçados, a Flor que cultivou o Homem... Porque no Fim é a Flor que cultiva o Homem, no Fim é a Luz que se acende de Homem para vestir o Mundo, e isso seria menos que a Areia de uma Praia ao fim da Tarde, nem Deus conceberia algo assim que despertasse sua mais profunda tristeza, afinal, a Flor ainda tem sua beleza, mas como suporta perder os Olhos e Ouvidos que ainda não descansaram? Quem, se isso é possível, realmente nasceu no Horizonte? O Poeta? Esse não é seu Caminho... Seu Destino é mais Andarilho que Ele. Até Deus se perde em seus passos, e por vezes nem tem Vergonha de esconder sua Vertigem e até se assusta: "Poeta, por que anda por aí? Ninguém o acompanha, vejo suas dores e me consterno... Alguns lhe dão as Mãos, mas não sabem Onde pisam, e mesmo assim continua, por quê? Eu mesmo estou intrigado, o que quer disso Tudo? O que quer de Mim? Pergunto já que nunca me perguntou o que Eu quero de você, e até sinto que não é arrogância... Pela primeira vez, estou perdido... Dê-me uma resposta! O que ganhou? Pela primeira vez vejo que não ganhou e sequer se importou... Até chegou a perder muito... O que direi de você quando algo tiver de ser dito?", e tive que responder: "Não diga Nada... e se mesmo assim for preciso dizer algo, diga que meus passos foram maiores que o Horizonte, e que resolvi caminhar por outro Onde, e que ali sequer os deuses resolveram seguir porque havia muita dúvida, que ali a Fruta do Desconhecido é que engolia os viajantes, que ali o Oceano é muito menor que minha Gota, diga também, se tiver palavras, que ali não frutificam palavras, mas muitos desentendimentos à procura do Amor, diga que ali a Treva que se acende no Jamais apaga uma Luz, diga que ali dois passos para o Leste são três parados, diga que ali ninguém pode pousar, só a Mão perfeita com a última Flor... Você que criou todas as leis não previu que alguém escaparia delas? E que os outros não tenham compreendido, isso causou dores que você viu e as sentiu, mas que agora o Reino que habito é todo invertido? Que me importou essa Coragem? Hoje devastei o Império da Vida com a mesma Força que o Império da Morte, e como deixarei alguém invadir a minha Gota? Mesmo que Você desse o Oceano inteiro, ainda haveria uma navegação perdida, enquanto em minha Gota se suporta Tudo que ousou existir, e nesta trilha nem o último Rosto quis entrar, e se O confundi, foi porque imaginou leis perfeitas, mas até para uma Flor há uma Lei muito maior... Nisso eu resolvi caminhar, até perder as pernas, aí ninguém quis verdadeiramente acompanhar, porque seria preciso uma Força maior que a Divina para sustentar o Infinito. Sempre é preciso criar o Infinito, no caso de Você ter esquecido... E quem tem essa Força?", "E por quê? Não lhe dei essa tarefa... Falei tanto sobre a Lei do Amor... O que foi Tudo isso? Sua oportunidade... Não compreendo...", "Bom, nenhum Homem verdadeiramente O compreende, então por que iria Você compreender a mim? Resolvi abraçar a Única Porta sem maçaneta... Por que estaria preocupado com oportunidade? Foi dada alguma depois do Seu Mistério? O Vento e a Maré desmancham a Praia, e até os riscos... Não nasci com uma breve História, mas com o Infinito para me perder, e isso O assusta, por isso esconde-se a cada passo, descobri-Lo é deixar o Infinito maior... Nasci com vários ontens para retroceder... Não diga que não compreende, mas se um Dia houver palavra, diga que admirou como seu mais imperfeito e vivo Espelho, que até vislumbrou outras Eras, alguns seres que sorriram e choraram, com e sem Virtude, para que me instalasse do lado perdido do Horizonte como o Poeta das Janelas impossíveis, e que ali não é possível ser habitante, apenas um desabitante exilado de um único limite, que é a margem onde nunca nasceu a Vida... Diga que no Nunca me viu! Diga que seu vislumbre ecoou para além do longe, e até para Além do Além, onde nenhum dicionário alcança. Se puder esconda minha Existência para além da estupidez de existir! Não diga Nada, porque mesmo Você jamais alcançará a mim... Um grande sufi disse que Deus é que queria o conhecer, mas no meu caso Você fugirá, porque o tamanho do Abismo o amedrontará, e aí será minha Salvação, quando Tudo for menos que Tudo e serei eu Sua última porta de entrada... Nesse Instante haverá menos que Nada, e todo Enigma será Sua confluência... Isso não O assusta?", "Você, Poeta do Horizonte, é meu maior susto... Ainda não sei o que é de ti...", "Não saiba, e aí saberá...". Deus se desconcerta com algumas conversas, mas nesta Ele se perdeu, e os poucos homens que O viram disseram que seu paradeiro é mais incerto que o meu... Talvez por isso o Tempo esteja tão descontente, como ele irá embalar àqueles que sofrem em seus ponteiros? Outro dia nasci sem Janelas, hoje acordei no Horizonte. Disseram que isso era o Império, mas como perdi o Imperador, acabei vagando como Olhos de uma Manhã sem Morada. Para morar é preciso caber, mas meu Peito é maior que a Amplidão e isso nublou Deus e seu Caminho, porque no fundo a sacralidade está em quem perdeu seu quem e caminha sem Vida ou Morte, Rosto maior do Espelho fingido, e só assim se cultiva jardins, sem flores... Um Peito como esse é uma Lei sem Limite, o esconderijo de tudo que some, uma Noite devagar, os amantes para além dos beijos, e até a Morte sem nascimento, bem antes de toda possibilidade... Disse com Força: "Empunha teu Destino como a última Flor de Deus...", mas quando despertei sem Caminho, a Flor estava sem Deus, e o Destino sem mim. Como faria disso a grafia vital da Vida? Se fosse possível uma Biografia, ao escrevê-la o Fogo da Vida apagaria cada letra e só sobraria o Deserto do Infinito para contemplar as cinzas do Impossível. Toda Vida é o Mistério do Impossível. E todos os olhos que me cruzaram, me perderam, porque olharam a fagulha, nunca a Origem. Vi olhos de namorada, vi olhos de amigo, vi olhos de colegas, vi olhos de inimigo, vi olhos de pais, vi olhos de irmão, e todos escorreram pelo canto errado, como se houvesse existido... Mas o que eu diria da minha Mão, como se fosse possível a Eternidade? E a sinceridade? Quantas guerras não travei com o próprio Amor, para que me deixasse dizer uma única verdadeira palavra? Tudo nublado... Mesmo assim tinham olhos participantes do Barco Vazio... Quem navegou não O sentiu, quem O sentiu não navegou... Ficaram entre dois eclipses. Ninguém nasce que não perca o brilho da Lembrança... São outros momentos. Investem como se acreditassem, mesmo não havendo nada para espalhar. É como se fosse firme. Escondem Deus como se fosse certo... Mas um Dia se atrapalham, e de assalto vem uma Força tão assustadora, que só de estar vivo cresce o espanto. Quem nasce do lado secreto da Vida? O despreparo é tão grande para o Olhar, que só a Floresta inventa outra viagem. Chamam as chamas de um relâmpago, mesmo assim não é o Peito. Chamam a Noite. Chamam o noivo, o pai, o amante... E nada ainda chega que seja o resquício do que também chamam "Verdade". Nada tem Seu semblante. Qualquer ritual clama, qualquer voz evoca, qualquer som se perde, e ainda sobram vertigens e moradas... Há morada? Uma ou duas, talvez... Mas onde socorre a fragilidade da Força mais bruta do Infinito? Qual será o eco mais distante que não cabe em um Poema? Um Dia, quando tiver nevado longe do meu Caminho, e nada mais for Poesia, ali haverá minha Verdade... Sem palavra, sem dono, sem...
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Poeta do HorizonteAlguém que dos retalhos da Vida, retira olhares e sinceridades inauditas... Histórico
May 2023
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