Todos os dias somos cercados de pessoas, mesmo quando sozinhos. E não de um modo metafísico ou espírita, mas nos atos e objetos mais simples do dia a dia, estamos cercados de pessoas, vivas e mortas (não espíritos, que fique novamente claro!). Peguei-me olhando com êxtase e espanto para tudo que me rodeia, e todas essas coisas foram feitas por pessoas, direta ou indiretamente, se um computador não foi feito manualmente por uma pessoa, a máquina que faz as máquinas foi...
Enfim estamos rodeados de pessoas, em nossas memórias palavras e gestos de pessoas, nunca estamos completamente sozinhos, e dessa observação nasceu o poema abaixo: Dos que fizeram a vida Para todas as pessoas que vivem em mim sem saber As que me deram a madeira já perfeita na mesa Ou o gesso que não quebrou como os namoros que passaram Ou ainda as telas que mandam outras pessoas a mais Os que fizeram os pisos que ainda não cheguei a dançar Ou as paredes que alimentam com meu próprio sol Os computadores com elétrons da mais última ciência As carcaças plásticas que exumam os dias Os que fizeram o relógio que inventa a hora de acordar Os que fizeram os papéis e os ensebaram em livros cansados Os que fizeram os enfeites não pela pequena beleza, mas a salvação Os que fizeram até a comida que me engana da morte Ou ainda e até os mortos que viveram passando palavras Como se fosse um jogo sem juiz ou regra maior Não tenho a esperteza de todos eles Mas moro tão neles que há um alívio Pois mesmo na penumbra das horas e a noite calada Tenho a cama, também feita pela inteligência de quem nunca vi E nesse extremo anonimato vestido de casa e enigma Tenho as horas todas acompanhadas Daqueles que me amam sem jamais terem me visto Sou o resquício, último e verdadeiro companheiro desse mistério Que é estar sozinho e sempre acompanhado Do maior visitante que teria de chamar de vida...
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Poeta do HorizonteAlguém que dos retalhos da Vida, retira olhares e sinceridades inauditas... Histórico
May 2023
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