No livro "As 48 leis do Poder", a primeira regra (a lei de Ouro) é: "Não brilhe mais que o Rei". Num Mundo imbuído em Ego e não em Sabedoria essa regra é basilar, mas inútil... Há um ditado yorubá que diz: "A cabeça de um Homem faz dele um Rei", e desse ditado duas historietas me ocorrem. A primeira é a magnífica e famigerada de Alexandre e Diógenes, quando o primeiro, pretenso "o Grande", ao passear "conquistando" a Hélade antiga, sabe da história de Diógenes e o intriga tanto um Homem de Verdade, um Homem autêntico, vivendo pelado e com um barril, como pode se existe um Alexandre conquistador do Mundo como eu, e alguém que abdica das futilidades inúteis do Poder, Status, Dinheiro, Conforto material? É realmente possível existir alguém assim? Nossa estúpida indução faz crer que apenas existam cisnes brancos, o que realmente é natural e até necessário do ponto de vista evolucionário, afinal, se um tigre ataca nossa tribo uma vez, ficamos um pouco alertas. Se o tigre ataca pela segunda vez, na terceira se o tigre estiver lá no Horizonte distante, sem oferecer nenhum perigo naquele Dia, basta para decretarmos estado de emergência na tribo e acharmos um jeito de matar esse tigre (que pode não fazer nada nesta terceira vez) para que não venha a ter sequer a possibilidade de atacar a tribo. Mas sempre há o cisne negro para destruir nossa estúpida indução. E Diógenes era o cisne negro de Alexandre tão imbuído em Poder, Status, Conquistas, Dinheiro, Espólios, Mulheres (e Homens), que ele realmente precisava conferir que realmente existia um alguém tão "cisne negro"... Alexandre já estava fascinado antes mesmo de conhecer Diógenes, e pediu um aparte exclusivo com a figura, deixou suas "conquistas" (o que é uma conquista dentro do Devir? Todo Ser esclarecido e Con-sciente sabe que nada pode ser conquistado...), abandonou a tropa, pediu para ir sozinho conversar com esse Homem (muito maior que Alexandre, pretenso "o Grande"). A história é famigerada, mas não custa repetir: Alexandre se aproxima do Homem que vivia nu (esse era o verdadeiro Rei nu, que nenhuma criança apontava, apenas os adultos infantis...) e lhe diz:
- Diógenes, sou Alexandre, o Grande, o atual conquistador de todo o Mundo conhecido, sou o homem mais poderoso, mais rico, com maior posses e espólios das guerras de conquista que empreendi. O Mundo me pertence, tudo a mim é concedido com um olhar ou um mover de mãos. Você realmente me intriga, e o vejo como um Homem muito sábio, muito mesmo. Sou capaz de lhe ofertar qualquer coisa de minhas posses, fazer qualquer coisa por você, tudo que você quiser para que possa conviver ou ter algo de sua sabedoria. O que você quer? Diga qualquer coisa, sou Alexandre, o Grande, posso lhe providenciar qualquer coisa... - Qualquer coisa? - pergunta meio incrédulo, levantando-se de soslaio apenas para constatar de leve que a figura de Alexandre realmente estava ali ao seu lado e sozinha. - Sim, Diógenes. Diga qualquer coisa e lhe providenciarei! - Qualquer coisa, mesmo? - Sim! - diz Alexandre já um pouco impaciente com toda aquela humilhação para um "mendigo", afinal, ele era Alexandre... - Saia do meu Sol, você está tampando meu Sol... Alexandre retorna desolado para a tropa, que impaciente mas sem muito furor, porque não podia desagradar Alexandre, tenta sondar o que se passou entre os dois, e Alexandre diz apenas: "Se não fosse Alexandre, queria ser Diógenes". Essa historieta primeira, simbolicamente de muitos significados, revela quem é o verdadeiro Rei da Vida, que a cabeça de Diógenes (e mais principalmente seu Cor-Ação) faz dele um Rei, e não o Status que uma, dez, vinte, mil, um milhão de pessoas lhe conferem. O Astro-Rei (famoso Sol), não deixa de Ser Sol, se todos os Homens da Terra tentarem o humilhar e invectivar com sua voz ferina ao Astro rico que permite a Vida, ao Astro que todos os dias doa sua Energia para uma Terra abrigar seus seres pulsantes. Pouco importa o que todos os atuais 7 bilhões de humanos falarem Dele, Ele continuará no dia seguinte impondo sua Luz ao Mundo, doando sua riqueza perpétua sem mágoa com esses pobres humanos inconscientes. E Diógenes em sua busca de claridade, iluminação, plenitude, calor, viu-se interposto pelo Poder, viu-se interposto por um pretenso "o Grande", e este de nome Alexandre criou (como figura simbólica do Poder) uma sombra sobre Diógenes (o verdadeiro Rei de si mesmo), que quis que o Poder se retirasse, fosse embora, porque ele só queria o seu Sol... A segunda historieta é de Buddha, que após sua iluminação sob a árvore Boddhi, viu sua história correr com tantos "likes" e "shares" nas redes sociais, que logo passou a incomodar detentores de Poder. Um primeiro-ministro de um reinado na Índia, mais afeito às questões do Cor-Ação e do Espírito, percebeu a beleza da história de Buddha, e pediu para que o Rei convidasse Buddha ao palácio, pois isso era magnânimo, e o pretenso Rei indignado: - Mas convidar um mendigo ao meu palácio? Isso é indigno! Ultrajante! E o primeiro-ministro, mais sensível, e peça-chave no reinado daquele pretenso Rei, e na Verdade, a cabeça por trás da orquestração política daquele reinado, com todas as letras disse: - Meu senhor, você é o mendigo, e ele o Rei. Se não chamar este Homem ao seu palácio, eu abdico de ser seu primeiro-ministro. O pretenso Rei ficou atônito, não podia perder a cabeça do seu reino, o primeiro-ministro, sem ele estaria completamente perdido, ele era a mente por trás de tudo naquele reino, e não ele mesmo, o pretenso Rei. Como deixaria seu orgulho de lado? Mas perder o primeiro-ministro era impossível! Resolveu ceder: - Convoquem esse Buddha ao meu palácio! Logo descobriram que Buddha passaria em alguns dias naquele reino, e o chamaram, e Buddha foi conhecer este pretenso Rei. Quando o pretenso Rei, atônito por não querer perder seu primeiro-ministro, viu o pretenso "mendigo", caiu de joelhos aos pés de Buddha e disse extasiado e em Cor-Ação: - Você estava certo... Eu sou o mendigo, ele o Rei... Por isso, essa primeira lei política das "48 leis do Poder" é completamente inútil. O Sol brilha sem que peçam para ele brilhar. Quando um Sol desperta na Terra e se ilumina, não adianta querer "tapar o Sol com a peneira", ou falar o quanto ele é escuro, ou o quanto ele é mendigo, ou o quanto ele é inútil. Ele irá brilhar incessantemente, e independente dos mesquinhos de Espírito. E por isso os iluminados costumam incomodar tanto, porque eles dissolvem Egos, eles tornam a busca das pessoas (Personas, máscaras que soam vozes) tão inúteis, tão irrelevantes que dói muito para elas perceberem que buscam e buscaram por tantos anos algo inútil para sua real e verdadeira felicidade, e isso gera um ódio e negação gigantescos. Mas o "cisne negro" sempre aparece, cedo ou tarde, para quebrar a estupidez lógica da indução, e fazer os seres chegarem perto do Espírito... O Sol, quando brilha, ofusca todas as demais estrelas e reina soberano no Céu. Essa primeira "lei de Ouro" do Poder, é sua mais estúpida afirmação: "O Poder é a Guerra dos Egos". Poderoso o que abdica da Luta, Guerra e Poder... Eis aí uma Força genuína e autêntica, digna de chamar de um verdadeiro Homem...
0 Comments
O Poeta acorda no Dia atrasado do fim do seu ano a menos, e recebe um Presente internacional atrasado de uma pessoa querida até o tutano do osso, e o Presente é o texto abaixo:
Este texto é creditado ao Paulo Mendes Campos, uma coisa que ele escreveu pra filha dele quando ela fez 15 anos. "Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca. Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: “Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?” Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira. A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta. Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo. Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: “Oh, I beg your pardon” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: “Gostarias de gato se fosses eu?” Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! mas quem ganhou?” É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste. Disse o ratinho: “A minha história é longa e triste!” Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: “Minha vida daria um romance”. Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: “Minha vida daria um romance!” Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria. Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo” Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor. Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões. Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso, Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”. Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça." Paulo Mendes Campos, no aniversário de 15 anos de sua filha. Sem querer uma pessoa entra na Vida de um Poeta e presenteia sua Manhã de aniversário com um imenso Presente! Por vezes a surpresa vem... E de onde menos se espera! Gratidão ao Uni-Verso por me trazer pessoas lindas ao meu convívio, não há Presente melhor que este e estar vivo para contemplar essa imensidão!
Grato por menos um ano! O LINK ABAIXO COMPLEMENTA O ÚLTIMO TED ACIMA: http://www.wakingtimes.com/2014/08/22/shaman-sees-mental-hospital/ O texto a seguir foi publicado no Blog "Enlaces Literários" em que a proposta do blog é escrever utilizando algo do elemento do texto do escritor anterior. O link da postagem vai abaixo:
https://enlacesliterarios.wordpress.com/2017/01/13/o-escuro-da-alma/ TEXTO NA ÍNTEGRA: Ontem velocidades impossíveis resolveram acessar meu caminho. Parecia minha mente, mas me confundi com um outro Deserto… Ainda sei o quanto posso passar entre pessoas sem ser visto, porque no fundo, é irrelevante nossa passagem, apenas um vento dentro de uma praia imensa, ou o rosto de um carvoeiro descendo imensidões. Nunca coube nesse Destino. Era o que podia dizer de mim mesmo, algumas vezes. Não que de verdade as palavras pudessem sentir a vertigem da Alma em fuga, ou de suas rotas mais obscuras, ainda há uma miséria para dizer nossos olhos, e isso poucos querem olhar com paciência em si mesmos. Eu fui um que resolveu olhar… Claro, há seu merecimento e sua loucura mais primitiva, como um ancião sem sabedoria na tribo mais distante. Quem olhou com carinho para o recanto deste Deserto, a que chamamos Alma, preferiu dar a algum Guardião, ou Anjo perdido na brisa do Destino. Eu resolvi olhar como a mim mesmo. Como pertencente do meu mais obscuro e glorioso. Como se o Anjo fosse a mim o meu maior Guardião das Lembranças. Como alguém poderia me roubar se eu mesmo sou o Guardião da Eternidade? Isso é o que muitos esquecem olhando para fora, buscando senhores, anjos e lunáticos que possam romper a frágil fagulha do que estão vivendo. Nisso não posso ceder. Ou retroceder. Dou a mim mesmo essa força absurda de querer vasculhar um caminho, ainda que podre, ainda que virgem e nunca visitado por uma Consciência. Dou a esse empenho minhas palavras mais escondidas. Dou a essa tarefa as horas que sequer tenho nessa Existência. Sou assim, dado a esclarecimentos. Muitas se declaram com os olhos pela poesia que devasta, outras pelo senso de humor, outras pela candura. Nunca vi uma que se rendesse à Alma. A esta dedicaria até minha morte impossível. Uma o considera lunático, um assassino em potencial, esconde sua verdade maior dos olhos alheios, e aí tudo se clarifica o quanto devemos caminhar sozinhos. A crise é a ponte maior, que desperta caminhos mais lúcidos. Resolvi abandonar a estupidez com a mesma força que se abandona seres em hospitais psiquiátricos. Dessa força conheço. É algo que queima, faz fogo e despeja as cinzas como uma maré depois da manhã… Resolvi adentrar o mais Escuro da Alma, e para isso, acreditem, não há Guardião, Mensageiro, Ladrão, nada que possa reverter nossa estupidez inicial de ter esquecido o Amor. Sim a velha palavra que todos amam e ninguém a pratica… Por isso desse relato selvagem não aparecerá mais essa palavra espúria ou dada a esquecimentos, porque é melhor esquecê-la nas frases, mas a viver nos olhos e mãos, com tamanha intensidade que mesmo o desprezo alheio, mesmo a incompreensão generalizada, mesmo uma nova reclusão, será apenas uma passagem para uma Vida maior, para uma Existência mais plena e sentida como a Verdade última de Tudo que existe. Quem se importa se hoje o pão estava ressecado? Ou se a dita pessoa amada lhe permitiu mais um punhado de dores novas? Quem realmente se importa de pegar a Alma e a levar para passear? Se essas respostas roubarem um suspiro mais acelerado, ou um esgar no rosto adoecido, talvez haja uma chance, ainda que mínima, de escolher pelo caminho do crescimento. Hoje envelheço, como Tudo que acredita no Tempo. Mas como busquei mais profundamente meu olhar mais despido, minha esquina mais nua, minha primavera mais deserta, posso dizer com extrema alegria o quanto é bom. Sim, é bom… É bom quando se corre a estrada em lágrimas por uma ninharia de sentimento, mesmo que o dia esteja convidando a sorrir sua luminosidade perpétua. É bom quando avistamos um cachorro reservado a longas horas de rua nos abanar o rabo com suas últimas forças. Ou o sorriso da criança que mal sabe que um dia irá estar na cama nua e amarrada em nome de uma explosão de emoções. Quem gostaria de ver tudo isso? Hoje, acordei com a Alma escancarada. Pela porta da frente vi dois homens. Pareciam simples. Andavam como se adivinhassem meu maior medo. Não disseram nada. Nem podiam… Dei-lhe as mãos e eles perguntaram com extrema inocência, algo que até esse momento não pude compreender totalmente: “- Você aceita?”. E respondi com a prontidão de um guerreiro sem guerra: “- Sim!”. E foi com tanta firmeza que os dois sorriram se entreolhando, mas não era deboche como a antiga mentira da saúde imperfeita, era uma amplidão que surgia naquelas bocas. Sabia que agora estava entregue a uma rota tão desfigurada para os outros que se realmente tivessem visto aquela completude que hoje me foi permitida, teriam buscado uma arma o mais rápido possível para fugir da sensação escura e avassaladora… “- Nunca sentiu isso?”, perguntou o mais afável deles, e tive que me segurar para não chorar longuíssimas horas desta pergunta feita num modo tão gentil que me assustou. “- Não… hoje é a primeira vez…”. Então, como se o mais bruto e duro deles, mas com um sorriso tão aliviador quanto o do outro, buscou uma flor branca sabe-se lá onde, porque aquela visão onírica era desprovida de qualquer característica compreensível, e a trouxe com estas palavras: “- Tenha calma agora. Entregue tudo. Tudo. Tudo será renovado. Esqueça as palavras que teve até hoje, esqueça as vivências que teve até hoje, esqueça as pessoas que viveram contigo até hoje, esqueça! Esqueça Tudo!”. “- Vocês são ladrões?” perguntei meio atônito, e eles se entreolharam longamente, mas tão longamente e num semblante que me desesperou tão fortemente que vi o que vieram fazer… “- Agora descanse. Essa sua jornada é tão perigosa que precisará de todas as energias que possa ter…”. Quando acordei, estava na minha dimensão mais improvável. Tinha os olhos agonizantes, e mesmo assim sabia que era o melhor que poderia ter acontecido. Nunca duvidei. Vi o quanto estava despreparado até hoje para ir para esse escuro… O Homem carrega sua Luz. A Luz se veste de Homem para acender o Mundo. E quando os quartos escuros nos aprisionam, só é preciso lembrar, longe de qualquer sentimento, que somos a maior de todas as luzes condensadas… Vivemos por… Desculpem, me privei de falar a palavra esgarçada nesse retalho de vidas. Hoje, e só hoje, acessei minha perturbação maior, com a força de ter nascido novamente. Sem ninguém… Convém a um Poeta do Horizonte cumprir o seu mais destemido nome: Horizonte. Símbolo único do inapreensível e inalcançável (tente quando houver Dia e Plenitude em tua caminhada alcançar o Horizonte e verá levemente o que aqui é dito...), este Ser se coloca numa Morada, num local de postura existencial no qual alguns podem o ver, mas ninguém o pode alcançar. Por quê? Há certos entendimentos que colapsam nosso Deserto interior e fazem surgir um Oásis onde julgávamos o mais dolorido e pesado de nós mesmos. Pois daí surgem as Flores mais esplêndidas. São resoluções e posturas existenciais que balançam o equilíbrio desse Uni-Verso e sua rachadura do Destino que deveria ser o Silêncio de Deus. Todo Mestre sabe a Hora do seu retiro... Hoje decide o Poeta cumprir a que veio, criando uma cabana modesta nesse Horizonte que ninguém alcança. Hoje, e é Sempre só Hoje, o Poeta poetizou sua Nova Jornada. Um novo passo rumo ao Mysterion foi dado, e que as Musas celebram neste Poema intitulado com seu nome mais lapidar, com seu nome de Epitáfio e Nascimento, com seu nome antes de qualquer significado, antes de qualquer céu despojado de sua claridade ou nuvens, como o tecido mais imperfeito criando a mais bela manta que pode cobrir seu dorso Nobre e esbelto de galã do impossível, o que talvez diga muito de sua perdição por sendas inconscientes. Que se abram as portas do Poema! Poeta do Horizonte O Poeta se mantém no Horizonte Onde poucos vêem e ninguém alcança Seu rosto despedaça o Destino maior Seu sangue É o conforto da Luz Tua Morada é Tudo que pode Ser Eis um passo que escondeu o Jardim Mas isto, somente as Flores sem olhos podem ver Quem anda pro Eldorado perde o poeta e o pote sem Ouro É uma Nova Jornada de um caminho sem honra Pedido no perdido átomo esvoaçante Cabem Mundos ainda por recolher Seu Mistério contemplado como o Templo do Infinito Seu ruflar é intranqüilo porque despede manhãs Todas fumegadas na ilusão do Oásis Teu Deserto não cabe na foto desmanchada Tua Vida uma significância sem qualquer palavra Porque muito antes do Verbo de muito antes Há sons e espelhos fragmentados de olhos Quantos andarão por esses passos que revelam Um tanto de água e despedida? Quantos brilharão sua Jóia mais Eterna? Ou derrotarão a miséria impossível de desejar? Retalho imenso dessa Vida faz um tecido nublado Um frágil acontecimento entre o Nada e a Voz Como se a perpétua indagação fustigasse O cerne mais inclemente da odisseia menor Que é retornar casado e de mãos dadas Com a própria lembrança do Agora... Pois Agora apenas Olhos calmos e honestos poderão ver esse Novo Horizonte, esta Nova Jornada. Que haja Sangue! Que haja Vida! E muita despedida... Encarnarei as palavras de Nietzsche Agora, então que só me retirem da minha Solidão para oferecer verdadeira e boa companhia... Abraços poéticos-existenciais PS - Uma dica existencial para os ansiosos das Horas perdidas: |
Poeta do HorizonteAlguém que dos retalhos da Vida, retira olhares e sinceridades inauditas... Histórico
May 2023
Categorias
All
|